quarta-feira, abril 09, 2008

Mata-Gato

Já fui perseguido, atacado e rasteirado mas nunca tinha apanhado um destes...

Ontem, decidi ir fazer um treino soft para rolar um pouco, fazer uns alongamentos e pouco mais. Estava eu a “rolar” tranquilamente quando me aparece um cão disparado do meio do nada, com a língua de fora e com o olhar fixo na minha direcção e completamente alheio aos carros que circulavam na estrada.

Fiquei mais descontraído quando percebi que o “canito” queria apenas brincar… com aquela expressão nos olhos de entusiasmo, como se tivesse fugido de casa pela primeira vez e estivesse a descobrir um mundo totalmente novo.
Nos primeiros minutos não liguei muito ao meu novo colega de corrida, andava sempre a correr desenfreadamente de um lado para o outro, a cheirar todos os recantos e árvores por onde passávamos. Passado algum tempo, comecei a “tentar” afastá-lo, “xooo… pra trás”… gritava eu a gesticular no meio da rua mas quando mais ralhava com o bicho mais piada ele achava aquilo.

Já estávamos muito afastados do local aonde o tinha “encontrado” (ou foi ele que me encontrou a mim?) e estava a entrar numa zona altamente movimentada em termos de trânsito. Os meus receios em ver o cão debaixo de um carro começavam a aumentar pois o “mata-gato”, nome de baptismo para o meu novo colega, não parava de atravessar a estrada por tudo e por nada.
Decidi parar… talvez o “mata-gato” perca o interesse e vá atrás de alguém, pensei eu.
Nada…depois de 10 minutos a fazer alongamentos e alguns incentivos para ele dar de frosques, nada funcionava. O danado ficava a olhar para mim como se dissesse: “Então? Bora lá pá… estás aí parado a fazer o que?”
“Tu és mesmo chato pá…”, pensei eu. Decidi voltar para trás, talvez o dono estivesse à procura dele na rua/zona aonde nos encontrámos, ia fazer mais uns kms do que tinha previsto mas sempre evitava o trânsito.

Passado algum tempo o “mata-gato” já andava mais calmo, talvez pelo cansaço das correrias iniciais já corria mais tempo ao meu lado, mais calmo e mais certo. Parecia que tinha sido ensinado desde pequeno a correr ao lado do dono.
Ao longo do caminho, começava a pensar em formas de enganar ou despistar o “mata-gato” e apesar de as considerar estúpidas… tentei de tudo, inclusive mudar várias vezes o sentido de marcha para ver se ele descolava. Sem sucesso, claro…

A primeira vez que nos cruzámos com um gato, o “mata-gato” deu inicio a uma perseguição implacável ao felino. Pensei cá comigo, “…é agora caraças” e comecei a sprintar a todo o gás na direcção oposta. Já devia ir nos 800 mts de sprint e com a pulsação no red line quando começo a ouvir o som de 4 patas em alta velocidade no meu encalce. Foi como se tivesse sido apanhado pelo pelotão na recta da meta depois de uma fuga brilhante. “Foi uma tentativa estúpida mas pelo menos valeu pela série de 800 mts…”, pensei eu enquanto recuperava o fôlego e olhava para o “mata-gato” todo contente por ter perseguido um gatito.

Chegámos à zona “inicial” e obviamente que ninguém conhecia o cão. “Ohhh… que cãozinho tão giro.”, foi o única resposta que obtive.
Mais alongamentos, mais “Xooos”, mais umas figuras ridículas no meio da rua com alguns berros à mistura e o mesmo resultado de sempre. Nada….
Bem, que se lixe… tenho de ir para casa não posso andar a noite toda nisto.
Chego à zona velha de Paio Pires e entra o segundo gato em cena, a perseguição repete-se e instintivamente dou por mim a sprintar numa subida, só que desta vez, armado em “chico-esperto” entro numa rua secundária e escondo-me numa ruela escura.
- “Sou mesmo estúpido… o que é que eu estou a fazer?”.
Obviamente, não demorou muito tempo para o “mata-gato” descobrir um gajo a cheirar a cavalo no meio do escuro.
Não sei se era do cansaço mas tentar despistar um cão desta forma já era um sinal evidente de desespero. O “mata-gato” (agora percebe-se melhor o nome de baptismo) lá vinha a meu lado, todo satisfeito por mais uma “perseguição” bem sucedida.

Chego finalmente a casa, faço uns últimos alongamentos (muito alonguei hoje…) e enquanto um pastor alemão das redondezas ladrava que nem um louco, o “mata-gato”, impávido e sereno, aproveitava a pausa para se alongar no chão mesmo ao meu lado.
Foi com algum custo que fechei a porta a este meu colega de treino que me acompanhou durante tanto tempo mas não havia muito mais a fazer.
Era um cão bem tratado, robusto e com coleira, pelo que fiquei na esperança que o famoso sentido de orientação canídeo seja mais do que suficiente para ele regressar a casa em segurança. Fico na esperança, que tal como eu, simplesmente tenha dito à Patroa: “Vou ali dar uma corridinha já volto…”

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