O primeiro registo de ascensão ao Mont-Blanc é de 8 de Agosto de 1786, realizada por Jacques Balmat e o Dr. Michel Paccard. Esta ascensão, patrocinada por Horace-Bénédict de Saussure marcou o início do montanhismo moderno.
Um bocadinho de História…
Embora tenha sido uma passagem utilizada pelos romanos em suas conquistas e seja habitado desde tempos pré-romanos, o Mont Blanc demorou a perder sua aura ameaçadora.
Os antigos moradores dos seus vales aprenderam a conviver com sua neve e suas agruras, mas jamais ousaram desafiá-lo.
Foi apenas no século 18, quando o naturalista suíço Horace-Bénédict Saussure chegou aos pés da montanha para colectar plantas e ficou fascinado com sua magnitude, que nasceu a ideia de conquistar e estudar a montanha.
Saussure não conseguiu desviar o olhar das alturas e, obcecado, relegou sua colecta botânica a um segundo plano, chegando a estabelecer uma recompensa para quem achasse uma via rumo ao topo do Mont Blanc.
Os únicos que se atreviam a escalar a montanha naquela época eram os caçadores e os “cristalliers”, camponeses que subiam em busca de cristais de quartzo para comercializar. Visto como um local perigoso, habitado por diabos e outros génios do mal, os “cristalliers”, desciam da montanha e abrigavam-se nas suas aldeias antes do pôr-do-sol.
As mulheres faziam o sinal-da-cruz quando o nome da maligna montanha era pronunciado e todos tinham a crença de que seria impossível sobreviver nela por uma noite. Quem suportasse o frio, seria morto pelos demónios.
Foi num dia de junho de 1786 que o acaso fez com que essas convicções começassem a mudar.
Um “cristallier”, chamado Jacques Balmat, separou-se dos seus companheiros e distanciou-se, sem perceber, do trilho que seguia, perdendo-se. Sendo alcançado pela noite, não teve outro remédio a não ser esperar que o dia clareasse na montanha, dormindo a 4 mil metros de altitude. Gelado até os ossos, porém vivo, regressou no dia seguinte a Chamonix.
Apesar de vivo, Balmat virou motivo de desconfiança e admiração por parte dos moradores. Sobreviver a uma noite na montanha? Numa época em que histórias de monstros eram contadas à luz de lamparina, poucos acreditaram em Balmat.
Mas a partir desse "acidente", o caminho para a ascensão do Mont-Blanc estava aberto. Outro habitante de Chamonix, o doutor Paccard, ouviu atentamente o relato do cristallier e decidiu arriscar, com sua ajuda, a subida ao cume.
No dia 8 de agosto daquele ano(1786), Jacques Balmat e o Dr. Michel Paccard ascendiam com sucesso ao topo do Mont-Blanc.
Balmat, iria repetir o percurso passado desta vez com Horace-Benedict de Saussure, seguido por cerca de vinte guias com vários quilos de equipamento para estudo científico. O feito, teve ampla repercussão.
Apartir daquele momento tudo mudou, Saussure retirou a montanha das trevas da superstição e chamando-o Mont Blanc (Monte Branco), iluminou-o para a ciência.
Uma nova profissão estava criada: a do guia de montanha, e um novo termo, alpinismo, foi cunhado. Em 1820 os velhos cristalliers fundaram a Companhia de Guias, passando de camponeses a escaladores, e as técnicas de uma nova paixão, o montanhismo, começou a ser desenvolvido.
Outros picos foram conquistados e a região ganhou uma nova aptidão, virando palco de invenções como o Esqui (que surgiu ali em 1897) e outros desportos de inverno.
Tanto que os primeiros Jogos Olímpicos de Inverno, em 1924, não poderiam ter sido sediados senão por Chamonix. Os primeiros teleféricos e meios de elevação para esquiadores do mundo foram inaugurados para o evento.
Hoje Chamonix, uma charmosa cidade de 10 mil habitantes, chega a receber mais de 110 mil visitantes por dia nos meses de verão. Muitos deles querem repetir o feito de Balmat e Paccard, chegar ao topo do Mont Blanc. Escalá-lo utilizando a rota mais comum costuma demorar dois dias.
Curiosamente, até já se pode tomar banho de Jacuzzi no topo do Mont-Blanc...
Se o Jacques Balmat soubesse disto...
p.s. - Texto adaptado do artigo "Mont Blanc - História da Escalada", por José Luiz Pauletto.
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